Dois erros de Neto deixaram Jero com uma mão na taça

Saiu mais uma pesquisa Atlas/A Tarde na Bahia: Jerônimo provavelmente será o próximo morador do Palácio de Ondina.

Categoria

Eleições Estaduais

Data de publicação

26 out 2022

Autor

Pedro Menezes

Os resultados da última pesquisa Atlas/A Tarde são péssimos para ACM Neto. Na comparação com a última pesquisa, o ex-prefeito de Salvador cresceu 0,6 pontos percentuais nas intenções votos totais (de 43,8% para 44,4%), o que equivale a 30% da margem de erro. O candidato petista se manteve estável em 53,2%.

Em votos válidos, o placar está 54,5% a 45,5%. Mesmo considerando a margem de erro, o placar ficaria 52,5% a 47,5% no melhor cenário possível para ACM Neto. A vantagem é pequena, mas o jogo está acabando.

No 1º turno, a pesquisa Atlas/A Tarde divergiu de todas as outras e foi a única que se aproximou do resultado. No 2º turno, a liderança de Jerônimo é um consenso.

A provável derrota de ACM Neto é impressionante. Ele passou o mandato em Salvador como o prefeito mais aprovado dentre as capitais brasileiras, chegou a alcançar 77,7% das intenções de votos válidos numa pesquisa Quaest de julho e, dentre todos os políticos do estado, era o que tinha a melhor imagem na maioria das pesquisas realizadas desde o início da eleição - inclusive na Atlas.

Agora, aos 40 do 2º tempo, Jerônimo tem uma mão na taça. Erros táticos de ACM Neto explicam o resultado.

Erro 1: acreditar num favoritismo ilusório

ACM Neto se via como favorito. Erros de pesquisa o iludiram.

No primeiro texto do PollsterGraph, escrevi sobre esses erros - clique aqui para se aprofundar no assunto. A ausência do partido nos formulários subestimou a força de Jerônimo, que tinha o PT como seu maior ativo. Esse erro distorceu as pesquisas em todas as eleições baianas desde 2006.

Ao incluir o partido no formulário, a pesquisa Atlas/A Tarde corrigiu esse erro. Em toda a campanha, os resultados foram diferente das outras pesquisas e o recado é claro: a disputa estava apertada desde o início. ACM Neto nunca foi tão favorito assim e cometeu erros estratégicos em sequência.

Neto faltou os primeiros debates do 2º turno e associou seu nome ao de Bolsonaro em momentos de noticiário intenso, como a eleição da Câmara em 2021. Desde aquela época, o atual presidente já batia recordes de rejeição na Bahia.

Ao invés de tentar entender por que os números da Atlas divergiam de outros institutos, Neto chamou a pesquisa de "enquete fake do PT". Mesmo depois dos resultados de 1º turno indicarem que a pesquisa Atlas foi extremamente precisa, Bruno Reis - atual prefeito de Salvador e braço direito de ACM Neto - manteve o discurso.

Assim, Jerônimo se viu livre para avançar ao longo da campanha e passou a liderar a disputa com certa folga. No 1º turno, o candidato do PT teve 49,5% dos votos. Como os candidatos de PSOL e PCB tiveram 0,6% dos votos válidos, os candidatos de esquerda somavam 50,1% dos votos.

A fatura não estava fechada. No 1º turno, Neto teve 40,8% e o candidato bolsonarista teve 9,1% - a soma dos dois chega a 49,9%. O problema é que esse é um condomínio conflituoso - cerca de metade dos eleitores de ACM Neto também votaram em Lula - e o ex-prefeito de Salvador insistiu num outro erro.

Erro 2: acreditar que eleição estadual seria desvinculada da presidencial

Apesar do 1º turno ter indicado o contrário, ACM Neto continuou dizendo que a eleição baiana seria separada da disputa presidencial. A postura do líder carlista indica que a crença é sincera. Neto se manteve neutro num estado cujo eleitorado é largamente lulista e, quando se posiciona sobre o assunto, é enfático na crítica a Lula, um candidato apoiado por boa parte dos seus eleitores.

A conta chegou. Todas as pesquisas Atlas do 2º turno são consistentes em dois pontos:

  1. ACM Neto herdou quase todos os votos de João Roma, candidato bolsonarista.
  2. Uma parte relevante dos eleitores de ACM Neto (entre 5% e 10%) pretende votar em Jerônimo no 2º turno.

O ponto 1 é esperado, dado que o eleitorado baiano é ideológico. Cerca de 99% dos eleitores de Bolsonaro declara voto em ACM Neto.

Pelo mesmo motivo, o ponto 2 também é esperado - e tende a ser fatal. Para vencer a eleição, Neto precisaria manter os próprios votos e tirar eleitores do adversário, que teve 49,5% dos votos no 1º turno. Ao invés disso, Jerônimo mantém a própria base intacta e herda eleitores de Neto.

A missão de atrair bolsonaristas e petistas simultaneamente é impossível? Ninguém sabe. Pelas pesquisas, sabemos apenas que ACM Neto não está conseguindo cumprir a tarefa.

Autor

Pedro Menezes

Categoria

Eleições Estaduais

Data de publicação

26 out 2022

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